Artigo sobre Bullying na Lux deste mês

Bullying: Responsabilidade de todos

 

Nos últimos anos temos assistido a relatos chocantes de episódios de violência entre jovens, de atos de vingança, e suicídios em consequência de agressões nas escolas e no ciberespaço. O espaço mediático tem permitido uma ampla discussão na sociedade a propósito dos mecanismos preventivos e interventivos sobre este tipo  de violência entre pares, mas se é fundamental apoiar as  vítimas, não é menos importante compreender os agressores (bullies), em particular, através da seguinte questão:

 

Quem são os bullies?

A tentação é procurar um perfil de características no qual se encaixem as pessoas que agridem, mas aqueles que investigam este fenómeno, estão cada vez mais certos da necessidade de compreender os comportamentos que constituem o bullying num enquadramento sócio-ecológico. Assim, o comportamento de bullying não é visto simplesmente como o resultado de características individuais, mas algo que sofre a influência das múltiplas relações com pares, familiares, professores, vizinhos e interações com influências sociais (por exemplo, os media e a tecnologia). Torna-se claro que o bullying ocorre num contexto social no qual vários factores o promovem, mantêm ou suprimem.

 

A ampla variedade de comportamentos de bullying e motivações para os mesmos revela-nos como qualquer tentativa para classificar um jovem como um bully (o agressor), a partir de uma observação limitada do seu comportamento social, pode ser problemática. Não podemos separar o comportamento do seu motivo. A agressividade física como parte de uma luta entre rapazes do 3º Ciclo ou Secundário não pode ser vista imediatamente como bullying, uma vez que eles não estão a selecionar alguém no combate como mais fraco, mas sim como um rival. Então, torna-se essencial olhar para os jovens que, inequivocamente, devem ser designados bullies, uma vez que os seus comportamentos de agressão física ou psicológica são planeados e têm subjacente a intenção de abusar de alguém mais fraco para alcançar um objectivo, por exemplo, a percepção de aprovação pelos pares. Nem todos os bullies têm prazer em bater em crianças ou jovens indefesos, muitos outros que se envolvem no mesmo comportamento, sentem-se desconfortáveis e culpados com o que fazem.

 

Estamos perante uma (ir)responsabilidade generalizada, se considerarmos todos os factores sobre os quais já temos conhecimento e que são promotores de bullying:

Indivíduo: falamos de crianças e jovens com necessidade de controlo e domínio, sentimentos positivos relativamente à violência e pouca empatia, problemas de conduta, e susceptibilidade à pressão dos pares. Muitas vezes com alguma popularidade. Apesar dos bullies terem comportamentos agressivos, são muitas vezes inseguros, sofrem de ansiedade e depressão. São hábeis a identificar as fraquezas das vítimas e a incitar outros a assistirem ao bullying. Enquanto os rapazes usam sobretudo a forma de agressão física, as raparigas tendem a optar pelas formas de agressão psicológica.

Família: envolvimento em grupos marginais, falta de supervisão parental, ambiente familiar negativo, conflito parental acentuado e violência, fraca comunicação entre pais e filhos, ausência de suporte emocional, pais autoritários e abusivos.

Escola: comportamentos frequentes de bullying têm sido associados a respostas desadequadas dos professores e falta de suporte destes, relações pobres professores-alunos, conflitos frequentes entre colegas, turmas com normas que suportam o bullying, e a relações com colegas agressivos.

Comunidade: encontramos níveis de bullying mais elevados em bairros mais inseguros ou com ambiente hostil, quando diminuem os recursos económico-financeiros ou quando existe afiliação a gangues.

 

É essencial sabermos que ao longo do tempo, os jovens podem assumir diferentes papéis no bullying: podem observar o bullying, serem vítimas ou tornarem-se bullies em determinada altura.  

 

Como intervir com bullies?

  1. Os que recebem o apoio de tutor tem resultados positivos nas suas vidas.
  2. Demonstrar os efeitos nefastos que o seu comportamento poderá provocar na vítima:  esta tem sido uma forma mais efetiva de promover e estabelecer empatia nos bullies.
  3. Papéis de liderança: medida que ajuda a redirecionar a sua necessidade de poder num caminho mais positivo e construtivo. Um exemplo é escolher um bully, que já agrediu outros colegas, para ser o “protetor” de alunos que estão a ser vitimizados por outros bullies.

 

Considerando as consequências a longo-prazo não só para as vítimas, mas também para os bullies estou convicta que as intervenções eficazes sublinham a necessidade de reconhecimento e transformação dos papéis que cada um de nós desempenha nos factores sistémicos que contribuíram para o agravamento do bullying ao longo dos anos.

 

Infelizmente, a lei do mais forte, tantas vezes defendida implicitamente, vai degradando o tecido emocional dos nossos jovens e fragmentando os pilares de uma sociedade que cada vez menos reconhece e valoriza a tolerância e empatia.

 

Inês Leitão

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

Núcleo de Perturbações do Espectro do Autismo – PIN – Progresso Infantil www.pin.com.pt

ines.leitao@pin.com.pt