«Estrelas & Ouriços – Artigo opinião » “Ensino online: as vantagens e desvantagens”– Dra. Aurora Lopes e Dra. Francelina Manso

Com o encerramento das escolas, a modalidade do ensino online impôs-se como resposta à necessidade de manter condições de aprendizagem. No entanto, como qualquer plano de ensino alternativo, traz consigo um conjunto de consequências. Poderão elas ser balanceadas num jogo justo com as suas vantagens?

Comecemos por refletir sobre as possíveis vantagens desta modalidade mediante o olhar de cada elemento ativo no processo de ensino-aprendizagem.

Para o aluno:

Flexibilidade, com possibilidade de ajustar o tempo de realização de acordo com o ritmo de aprendizagem; quebrar limites temporais tão rígidos em que a tarefa não termina necessariamente “ao toque” e, simultaneamente, com a opção de esclarecer de dúvidas à distância de uma mensagem individual imediata para o professor ou para os pares na plataforma e sem barreiras espaciais que quebram ligação entre o professor e o aluno.

Maior Comodidade, com oportunidade de ser mais criativo na exposição dos seus trabalhos/tarefas; facilidade de partilha de documentos e material necessário para a aula; na possibilidade em expor as suas dificuldades por mensagem privada.

Ao Acesso ilimitado a informação, com hipótese de procurar e obter novas fontes de conhecimento complementar aos conteúdos lecionados em aula; de aprender a pesquisar informação fidedigna (orientação e monitorização pelo adulto), desenvolver a capacidade de selecionar e de sintetizar

Para o professor,

Diversidade mediante o acesso a novas plataformas com possibilidade de explorar novas metodologias e de estratégias de ensino; reinventar a dinâmica de aula com períodos de exposição de conteúdos mais curtos e com novas estratégias de dinamização “aprender a fazer” em aula e preparar conteúdos mais apelativos e inovadores.

Papel do professor mediante a oportunidade de assumir uma aprendizagem colaborativa com os alunos e a reinventar o papel do professor como mediador da aprendizagem.

Rentabilidade, hipótese de poupar tempo na preparação e impressão tradicional de material de avaliação formativa e sumativa.

Comunicação, em que a ligação e o contacto com os alunos é mais frequente e imediato através das plataformas.

Para a família,

Garantir maior proteção das condições de saúde do agregado familiar

Maior acompanhamento/envolvimento da vida escolar, com possibilidade em identificar fragilidades e potencialidades comportamentais e de desempenho; desenvolver um trabalho colaborativo nas tarefas escolares e, transversalmente, criar uma nova dinâmica de tarefas de casa (responsabilização e organização envolvendo toda a família) e no reforço de relações interpessoais dentro do seio familiar.

As desvantagens assumem-se como fatores condicionantes de um ensino eficaz e, simultaneamente, destacam-se como desafios e possibilidades que obrigam a uma nova aprendizagem, à aquisição de novas competências e à procura de ferramentas de apoio alternativas.

Para o aluno,

Autonomia e Gestão de tempo com a necessidade em assumir um papel mais ativo e mais responsável nas suas obrigações escolares, em que o desempenho depende cada vez mais de si mesmo e, não, resultante da orientação constante do professor/figura adulta; saber gerir o seu tempo de trabalho e de descanso com a ativação de novas ferramentas/estratégias;

Automotivação e Controlo o tempo de manutenção da atenção, a motivação, a capacidade de concentração num período alargado perante um écran estático, o controlo de fatores distratores são alguns dos exemplos de caraterísticas dos alunos que, aliados a um inevitável menor controlo do professor, assumem-se como condicionantes de uma aprendizagem efetiva e de uma linha de evolução mais equilibrada.

Para o professor,

Preparação das aulas aliada a exigência do conhecimento e do domínio de tecnologias e/ou ferramentas digitais; gestão dos momentos de avaliação e redefinição de critérios de avaliação em que estão implícitos: o número de momentos de avaliação, a reinvenção de testes tradicionais e a diversificação de ferramentas de avaliação.

Gestão de apoio individualizado e de turma, com a criação de estratégias de monitorização das aprendizagens com diferentes ritmos de aprendizagem e maior sensibilidade às necessidades de cada um dos seus alunos.

Dinamismo e Criatividade, como condição sine qua non para garantir que os alunos mantenham a motivação e o empenho.

A ausência de contacto presencial que obriga o professor a ser mais perspicaz na manutenção da relação com os seus alunos, na perceção de dificuldades comportamentais, de aquisição de conteúdos ou desequilíbrio emocional.

Para a família,

Gestão de condições: poupança nas deslocações vs mais gastos na compra de meios tecnológicos; a impotência na resolução de falta de sinal e/ou falta efetiva de internet; espaços disponíveis para os filhos e adultos em teletrabalho; gestão multitasking e a impossibilidade de acompanhar os seus filhos por necessidade de manter o trabalho fora de casa são alguns exemplos do novo paradigma familiar.

A Desigualdade, transversal a qualquer um dos elementos do processo de ensino-aprendizagem, ganha espaço quando nos deparamos com distintas condições socioeconómicas, com agregados familiares diversificados, com díspares condições de acesso à internet e/ou dispositivos; espaço insuficiente em casa; alunos com maiores dificuldades que exigem apoio acrescido. Apenas alguns exemplos que se assumem como preocupações constantes às quais ainda estão inerentes respostas pouco eficazes.

Em suma, que este desafio de ensino seja uma verdadeira oportunidade de reflexão sobre a necessária MUDANÇA em assumir efetivamente um ensino de competências, em respeitar os múltiplos ritmos de aprendizagem em turmas cada vez mais heterogéneas (a nível comportamental e de desempenho), em ter coragem de quebrar a rigidez dos currículos e quebrar a pressão do seu cumprimento e assumir o foco numa postura cada vez mais criativa na criação de ferramentas e de dinâmicas favoráveis a aprendizagem de competências essenciais e transversais. Para os pais e alunos, a importância do envolvimento familiar na aprendizagem da criança como uma ponte efetiva com a escola.

Autores:
Aurora Lopes – Psicóloga Clínica
Francelina Manso – Docente de Educação Especial

Fonte: Estrelas e Ouriços