«Estrelas & Ouriços – Artigo opinião » “Oh não… o outono chegou!” das Terapeutas Ocupacionais: Inês Caniça, Mafalda Correia, Sofia Pires e Susana Sousa
A Alice tem 7 anos, frequenta o 2.º ano. É meiga e muito faladora. Não gosta do outono.
No outono, a temperatura diminui, a comida é servida mais quente e com pratos mais compostos, as crianças apanham folhas de diferentes cores, tamanhos e texturas e na escola fazem-se trabalhos ilustrativos.
A Alice é sensível e reage mal quando é tocada pelos colegas. Apresenta dificuldade em estar na fila quando toca para a entrada, ficando ansiosa.
No JI quando a educadora propunha uma atividade com colas e tinta, a Alice ficava muito agitada. “Quero limpar as mãos, estão sujas!” – dizia movimentando-se pela sala, limpando as mãos a tudo o que lhe aparecesse à frente.
Os pais assumem que o outono sempre foi uma altura particularmente difícil. Assim que a temperatura começa a diminuir, os pais antecipam as birras de manhã. Muda a estação do ano, ela não quer mudar a roupa e muitas vezes recusa-se a comer. “Não quero vestir calças, quero ir de calções!”, “Esta camisola pica-me os braços e estas meias fazem-me doer os pés!”, “Não vou comer. Esta comida sabe mal é feia!”
Estes comportamentos acompanham a Alice desde sempre, mas só depois da avaliação em Terapia Ocupacional, é que conseguimos dar um nome às ‘birras sem fim’. A Alice apresenta no seu perfil sensorial, entre outras fragilidades, elevada reatividade sensorial – hipersensibilidade tátil.
As crianças hipersensíveis têm um denominador comum; evitar sujar as mãos, o rosto, resistir a tarefas de modelagem e por vezes recusam comer determinados alimentos. Surgem também dificuldades em tarefas de higiene, como a lavagem dos dentes, o banho, cortar o cabelo e as unhas. É frequente surgirem dificuldades em tolerar certos tipos de roupas.
Esta é a altura do ano em que os alimentos são mais quentes e a cor da comida também é diferente e menos colorida. A cozinha enche-se de cheiros fortes, os pratos são mais compostos e a comida é mais densa. As refeições podem ser verdadeiros campos de batalha.
A Alice perante sensações de predomínio tátil, apresenta como resposta defesa e evitamento sensorial. Podemos ter de recorrer a uma reestruturação ou adaptação do ambiente, proporcionando um ambiente corregulador e a estratégias internas/do próprio corpo, com base no modelo de Integração Sensorial.
A Alice é apenas uma das muitas crianças que conhecemos. Estes meninos passam entre os pingos da chuva. Só quando as reações comportamentais são demasiado evidentes é que alguém recomenda avaliação em equipa de desenvolvimento e nem sempre chegam à Terapia Ocupacional.
A abordagem centrada no utente, com foco nas ocupações significativas, a par de um modelo que contempla os diversos ambientes e metolodologias específicas de intervenção alicerçadas em integração sensorial, fazem de nós Terapeutas Ocupacionais os terapeutas de excelência para as Alices.
As terapeutas ocupacionais:
Inês Margarida Caniça
Mafalda Correia
Sofia Pires
Susana Sousa