
«Estrelas & Ouriços – Artigo opinião» “PHDA e as emoções: uma relação difícil e explosiva!” Sofia Marques, Psicóloga Clínica do PIN
As crianças com PHDA são dominadas pelas emoções, manifestando reações mais exageradas. Porque razão isto acontece? Saiba como ajudar.
A regulação emocional pode ser definida como a capacidade humana de modificar um estado emocional de modo a promover comportamentos adaptativos e orientados para objetivos, o que implica selecionar, atender e avaliar com flexibilidade os estímulos emocionalmente ativadores.
Ser capaz de regular adequadamente as emoções garante à criança um bom ajustamento socio emocional, mas esta é uma tarefa de desenvolvimento exigente, na qual as crianças experienciam muitas vezes dificuldades. Isto é ainda mais difícil para as crianças diagnosticadas com Perturbação de Hiperatividade/Défice de Atenção (PHDA). A verdade é que estas crianças experienciam exatamente as mesmas emoções que as outras crianças, mas de uma forma mais intensa, frequente e duradoura.
E porquê que isto acontece?
Porque o funcionamento executivo, que é um mecanismo cerebral subjacente à regulação das emoções, está condicionado no caso da PHDA, e em consequência o desenvolvimento desta capacidade fica comprometido.
As crianças com PHDA são por isso mais facilmente dominadas pelas emoções, manifestando reações mais exageradas a estas, pela sua dificuldade em modular/regular a intensidade e duração da resposta emocional. Em consequência, elas precisam também de mais tempo para se acalmar e ultrapassar o efeito da emoção, ou seja, para se auto regular.
A (des)regulação das emoções é muitas vezes o motivo de preocupação que despoleta o pedido de ajuda profissional pelos pais. Para eles, lidar com “explosões de raiva” e mudanças de humor intensas dos filhos, é talvez dos maiores desafios que enfrentam no exercício da parentalidade.
Se por um lado a desregulação emocional afeta o bem-estar da criança, o seu desempenho académico, social, e a sua autoestima, afeta também a qualidade da sua relação com os seus cuidadores e a vida familiar.
Então, de que forma é que os pais podem ajudar?
Uma estratégia fundamental, que os pais podem treinar com os seus filhos, é ensinar-lhes a rotular as emoções com precisão.
A regulação emocional começa pela perceção correta das emoções, conforme elas “vêm e vão”. Embora parecendo fácil, esta tarefa não tem nada de simples, e requer muito treino.
Uma investigação científica sugere que um vocabulário emocional mais rico e complexo adiciona nuances às nossas experiências emocionais. Se a criança apenas conhecer a “raiva”, então tudo o que sentir que seja semelhante pode tornar-se “raiva”. Se ela for capaz de reconhecer as subtilezas de quando se sente irritada, ansiosa, triste, frustrada, desapontada, vai identificar com mais precisão a sua experiência. E um vocabulário mais rico pode influenciar a forma como interpreta um momento difícil e, em consequência, como reage a ele.
Uma relação saudável com as emoções começa com uma família aberta e aceitante de todas as emoções.
Todas as emoções têm um propósito e são-nos úteis, pelo que não existe qualquer benefício em tentar ignorá-las ou suprimi-las. Por exemplo, a raiva mantém-nos seguros em certas situações, e a tristeza sinaliza aos outros quando precisamos de ajuda.
Ler livros sobre emoções em família, falar sobre o tema e descrever aos seus filhos as suas próprias emoções, pode ter resultados muitos positivos para o desenvolvimento emocional deles. Seja (também) um modelo a regular as emoções.
Sofia Marques,
Psicóloga Clínica
Fonte: Estrelas & Ouriços