«Estrelas & Ouriços – Artigo opinião » “ Trabalhos escolares nas férias ? ”– Dra. Carla Cohen

“Estão aí as férias de verão. Será que ele devia fazer alguns trabalhos?” Uma questão que todos os anos é repetidamente colocada por diferentes pais.

A resposta não é simples. Há quem defenda que a quebra na rotina de trabalho irá conduzir ao esquecimento de aprendizagens; outros defendem que a realização de trabalhos escolares por obrigação poderá despoletar uma crescente repulsa e resultar prejudicial à aprendizagem.

Em tempo letivo, as rotinas das crianças incluem, para além do horário escolar, centro de estudos e trabalhos de casa que se perpetuam até perto da hora de deitar. Por este motivo, as férias são dos momentos mais aguardados do ano.

As férias são, por definição, uma interrupção destinada ao descanso dos trabalhadores. Porque tem de ser diferente para as crianças? Imagine-se num perfeito dia de verão em que se encontre de férias. As temperaturas altas convidam-no a um passeio na natureza ou a um mergulho refrescante no mar, mas…  tem de trabalhar. As férias permitem quebrar a frenética rotina diária. No caso das crianças, são também uma possibilidade de desenvolver outras áreas importantes para a aprendizagem e para o seu desenvolvimento. A desejada estimulação passará por atividades mais enriquecedoras e divertidas que a mera realização de fichas.

É indiscutível que o cérebro das crianças está mais disponível para atividades que se mostrem motivadoras, daí o sucesso dos videojogos. Apesar da concorrência ser forte, a concretização de jogos didáticos em família, o planeamento de passeios e viagens, a narração oral, escrita ou ilustrada de dias de férias em específico, a confeção de uma receita culinária ou até o auxílio na montagem de um móvel, são exemplos que têm um caráter lúdico e que recolhem grande interesse por parte das crianças.

Não obstante o referido, a leitura constitui, sem dúvida, uma competência essencial a estimular, mesmo no período de férias, e poderá estar presente na maioria das atividades solicitadas.

Assim, parte da resposta à questão inicial é que é necessário haver bom-senso. A outra parte é que a aprendizagem não é circunscrita às atividades escolares, ela está sempre presente. O maior estímulo para a aprendizagem é a motivação. Com esta premissa, podemos pensar que muitas das competências essenciais podem “vestir-se” de curiosidade, de iniciativa, de diversão e de autonomia. Afinal de contas, os períodos de férias correspondem aos momentos dos quais guardamos mais e melhores memórias.

Carla de Menezes Cohen

Psicóloga Educacional & Técnica Superior de Educação Especial e Reabilitação

Fonte: Estrelas&Ouriços