Linguagem: O primeiro sinal de que “Alguma coisa não está bem”
O atraso de linguagem é uma das principais causas que leva os pais a perceberem que alguma coisa não está bem . Este é o artigo mais recente das terapeutas da fala Ana Paris Leal e Sónia Cardoso.
Ao longo dos anos em que temos trabalhado com crianças e as suas famílias, uma das frases que ouvimos com frequência é “O meu filho está muito atrasado na fala”. O atraso de linguagem é uma das principais causas que leva os pais a perceberem que alguma coisa não está bem. Ainda assim, por vezes justificam este atraso com “eu também era assim, era preguiçoso para falar…”, “ele percebe tudo o que lhe dizem”.
De facto, a procura de ajuda é fundamental para esclarecer alguns mitos e para realizar uma avaliação e verificar se estas dificuldades de linguagem não são significativas tendo em conta a idade da criança e o seu contexto, se são apenas questões relacionadas com a comunicação, linguagem ou fala e/ou se existem outros fatores associados.
A deteção precoce de alterações do desenvolvimento (cognitivo, motor, linguístico, socialização, autonomia) é fundamental para que a criança beneficie de uma intervenção atempada, capaz de utilizar os seus interesses e pontos fortes para estimular as suas dificuldades, minimizando o impacto que possam ter no seu desenvolvimento.
Existem perturbações que podem estar na base da alteração do desenvolvimento linguístico, como o atraso de desenvolvimento sem etiologia conhecida, ou outras perturbações do neurodesenvolvimento, como a Perturbação do Espetro do Autismo.
Nas crianças com Perturbação do Espetro do Autismo, a ausência de linguagem oral é um dos principais sinais de alerta para os pais. A ausência de linguagem oral, associada a défices acentuados na comunicação verbal e/ou não verbal, tem impacto significativo na vida da criança e da sua família.
É de extrema importância uma intervenção especializada ao nível da comunicação, com o objetivo de trabalhar os comportamentos comunicativos, dentro da rotina da criança, capacitando os seus interlocutores e os contextos em que a criança se insere.
Trabalhar a comunicação é “abrir uma porta” ao mundo, pois a criança necessita de ferramentas para interagir adequadamente com o mundo ao seu redor.
Comunicar assenta na capacidade de gerar, emitir, receber e compreender mensagens. Comunicar é interagir, permite partilhar emoções, desejos, afetos e pensamentos com o outro, num determinado contexto social.
Desta forma, é importante “ensinar” a criança o poder da comunicação através de alguns comportamentos comunicativos, tais como: realizar pedidos, perguntas, comentários, a satisfazer as suas necessidades, partilhar a atenção, demonstrar agrado e desagrado.
Um dos recursos de intervenção utilizado são os suportes visuais. Funcionam como facilitadores da compreensão e expressão da comunicação. Permitem à criança aumentar a compreensão do mundo à sua volta e permitem ao interlocutor compreender melhor a criança. Podem ser fotografias, objetos, imagens, símbolos.
O tipo de suportes visuais a utilizar deve ser avaliado em função das características e necessidades de cada criança, sempre com o envolvimento da família. É importante que os pais estejam envolvidos em todo o processo, e que a intervenção realizada lhes faça sentido. O envolvimento parental é fundamental para o sucesso da intervenção.
Ainda assim, o recurso a pistas visuais ou ao uso de gestos, por vezes assusta os pais. Existe o mito de que “os gestos, as imagens atrasam a fala, pois a criança acomoda-se e não fala… “.
É importante esclarecer os pais de que a comunicação alternativa e aumentativa é complementada com outros modos de comunicação, como a fala, vocalizações, expressões faciais e o principal objetivo é promover a eficácia da comunicação.
A meta mais valiosa quando se inicia o processo terapêutico é ensinar a criança a comunicar com os pais, os amigos, os educadores, dando-lhe a oportunidade de se expressar e sobretudo de ser FELIZ!
Artigo desenvolvido por: