PHDA

Os sábados são dias de leituras mais calmas e, porventura, clarificadoras. Assim esperamos….Saiba mais sobre o processo de avaliação na Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção
Nenhum pai marca uma avaliação comportamental ao seu filho de forma leviana. Este processo, organizado no PIN em pelo menos 6 sessões com criança e pais, implica tempo e uma logística delicada. O protocolo de avaliação é composto por vários instrumentos e é a interpretação de toda a informação recolhida – através dos questionários, entrevista e observação do comportamento – que vai permitir chegar a conclusões.
O processo de despiste de Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção e possíveis comorbilidades é composto por duas vertentes. A primeira vertente compreende a aplicação de diversos instrumentos de avaliação à criança e observação de comportamentos característicos das possíveis perturbações existentes. A observação direta inclui, assim, provas formais específicas, bem como situações de natureza informal. Em todas as provas aplicadas, o desempenho da criança é avaliado em comparação com o expectável para a fase de desenvolvimento em que se encontra.
Existe, ainda, uma componente da avaliação dedicada à recolha de informação sobre o comportamento e dificuldades que a criança evidencia nos seus contextos de vida. É realizada uma entrevista clínica extensa com os pais, além de serem distribuídos questionários aos pais, professores e, cada vez mais, aos explicadores. Todos estes instrumentos pretendem recolher informação inerente aos comportamentos típicos da PHDA em relação à sua presença, intensidade e frequência com que se manifestam nos contextos de vida da criança/adolescente. Investigam, também, a presença de comportamentos típicos de outros quadros de diagnóstico que muitas vezes surgem associados à PHDA. A pesquisa de comorbilidades é, assim, fundamental para o entendimento das dificuldades existentes e forma como interagem entre si e torna mais complexo o processo de avaliação e, mais tarde e se necessário, o processo de intervenção.
Encarar a procura da compreensão sobre o comportamento da criança/adolescente como o desejo de um aumento de produtividade na escola é uma fonte de muitos mal-entendidos. As preocupações passam, muitas vezes, pelo insucesso escolar sim…mas são acompanhadas do empenho da criança e dos pais em casa que, apesar de constante e efectivo, não se revela nos resultados escolares alcançados. Para além das dificuldades académicas, o impacto que a PHDA tem no desempenho em rotinas e gestão de tempo é comprometedor da autonomia que deve ser adquirida. Este impacto cria cenários de conflito e desgaste continuado ao longo dos dias que se reflectem na qualidade de relação entre pais e filhos, entre irmãos e demais membros da família alargada. Por outro lado, e do ponto de vista social, os comportamentos típicos de um funcionamento desatento e agitado do ponto de vista motor facilmente se tornam ingeríveis em situações mais abertas e onde estão presentes mais estímulos. Ao longo do tempo, sensíveis à crítica de amigos e familiares, desgastados com a tentativa de resolver desafios que parecem infindáveis, estas famílias remetem-se muitas vezes a um isolamento e à sensação de uma solidão acompanhada.
O processo de avaliação não é de senso comum, é clínico, científico e alvo de reflexão individual do técnico responsável e, tantas vezes, partilhado em equipa. Não é um fenómeno de adivinhação, não é aleatório, não é simples. As famílias chegam-nos muitas vezes desesperadas, angustiadas com o futuro, exaustas por “tentar tudo, todos os dias”.