Pais em risco – Dra. Susana Santos

Ao longo da vida todos nós somos confrontados com situações indutoras de stress, quer sejam acontecimentos de vida significativos (por exemplo, um diagnóstico de cancro, a morte de um familiar, a perda ou a mudança de emprego, o divórcio, o nascimento de um filho), situações quotidianas (por exemplo, prestação de cuidados aos filhos, aumento das responsabilidades profissionais), ou até mesmo pela acumulação de várias destas situações.

Imagine uma balança, num dos pratos temos as situações indutoras de stress e no outro prato temos os nossos recursos para lidar com essas situações. Quando nós percecionamos o prato das situações indutoras de stress como sendo “mais pesado” do que o prato dos recursos para lidar com essas situações, gera-se um desequilíbrio/stress.

O stress poderá ter um efeito negativo para o próprio.

O stress poderá ser um fator de vulnerabilidade para o desenvolvimento de sintomatologia ansiosa ou depressiva. Vários estudos indicam que os pais que estão a passar por uma situação indutora de stress apresentam níveis acrescidos de sintomatologia ansiosa e depressiva, quando comparados com pais que não estão a passar por uma situação stressante. Há vários fatores que podem explicar este aumento de sintomatologia ansiosa e depressiva, um deles está relacionado com processos cognitivos. Em momentos de stress, enquanto estamos a fazer as nossas atividades de rotina (por exemplo, conduzir para o trabalho) a nossa mente pode vaguear para o futuro (por exemplo, a imaginar como é que vai correr a nossa apresentação hoje no trabalho ou a pensar no que faremos para o jantar) ou para o passado (por exemplo, quando ficamos a remoer/ruminar numa discussão que aconteceu no trabalho). Este modo de funcionamento até pode ser tentador, pois parece que estamos a ser eficientes, mas a longo prazo pode ter um preço, porque nos obriga a estar em esforço constante e não estamos a 100% em nenhuma das tarefas.

 

O stress poderá ter um efeito negativo na parentalidade/relação com os outros.
Quando estamos tensos ou stressados, podemos estar menos atentos aos nossos filhos, companheiro/a, amigo/a ou familiar e à maneira como nos relacionamos com eles. Nestas situações podemos reagir de forma mais impulsiva com aqueles que nos são mais próximos, por exemplo, ficando mais facilmente irritados com eles ou não nos apercebendo das suas manifestações emocionais. Em consequência, reagimos com os nossos padrões automáticos de sobrevivência que ocorrem de forma inconsciente. Esta resposta é muito útil e funcional em situações de perigo real (por exemplo, quando vemos um carro a aproximar-se em alta velocidade e estamos a atravessar a rua com os nossos filhos, de imediato os puxamos para nós). No entanto torna-se ineficaz nos casos em que não há perigo real ou imediato (por exemplo, quando o seu filho está atrasado para a escola), sendo potencialmente destrutiva para a relação entre os pais e os filhos.
Que “contrapesos” usar?
•Fazer atividades em “modo ser”. A evolução fez com que o ser humano se tornasse super competente a funcionar em modo de piloto automático. Somos capazes de fazer várias atividades sem estarmos conscientes de que as estamos a fazer enquanto, ao mesmo tempo, nas nossas cabeças tratamos de outros assuntos. Nesses momentos estamos em modo fazer, e podemos até estar com os nossos filhos, familiares ou amigos, mas não estamos realmente presentes naquele momento, porque a nossa cabeça não está apenas lá. Quantas vezes já fez uma pergunta e mais tarde apercebe-se que não ouviu a resposta, pelo que repete novamente a mesma pergunta? Ou o contrário. Já lhe aconteceu estar com alguém que lhe faz uma pergunta e parece que nem ouviu o que ele/ela disse? Quando estamos fisicamente presentes, mas emocionalmente noutro lugar, isso afeta a forma como nos relacionamos com essas pessoas. Pelo contrário, quando estamos emocionalmente presentes nas interações, ganhamos mais informação do que aquela que passa unicamente pela comunicação verbal. Faça o teste, e experimente estar em modo ser enquanto está com o/a seu/sua filho/a, companheiro/a, amigo/a ou familiar.
•Reservar tempo para si próprio. Tirar uns momentos para fazer coisas que gosta, como dar um passeio no parque, ir ao ginásio ou dar uma corrida, ou simplesmente ouvir a sua música preferida.
•Procurar o suporte da família e dos amigos. O/a companheiro/a, a família e os amigos podem ser fontes poderosas para aligeirar o stress, na medida em que nos podem ajudar com apoio emocional (dizendo, por exemplo, “não está sozinho/a, estou cá para te apoiar”) ou logístico (dizendo, por exemplo, “eu fico com os meninos, vai lá descansado/a”).
•Procurar ajuda especializada. A terapia cognitivo-comportamental tem sido associada a resultados eficazes na diminuição da sintomatologia ansiosa e depressiva, ao stress e para melhorar as relações que estabelecemos connosco próprios e com os outros.  No mesmo sentido, as chamadas Terapias de 3º geração têm-se mostrado eficazes no estabelecimento de uma parentalidade mais consciente.
Quando se confrontar com uma situação stressante, lembre-se que há “contrapesos que pode usar” para atingir o equilíbrio/a adaptação.
Artigo desenvolvido por:
Susana Santos, Psicóloga Clínica e da Saúde