“Terapia à distância com os mais pequenos: como?”, Dra. Ana Rita Santos

Todos nos sentimos mais confortáveis com o que nos é conhecido. Uma terapia em formato presencial é algo com que estamos familiarizados há muito tempo. No entanto, podem ser muitos os motivos que levam à interrupção de um acompanhamento terapêutico. Esta interrupção leva-nos a pensar o que será das evoluções conseguidas, que impacto terá o tempo de paragem, gerando preocupação.

 Com a evolução da tecnologia, começamos a abrir portas a uma intervenção à distância através da videochamada. Parece evidente que esta terapia tem menos diferenças no acompanhamento de jovens e adultos, nomeadamente nos casos em que os recursos são métodos que apenas necessitam da comunicação oral entre o terapeuta e o paciente.
Mas… E as crianças pequenas? Nestes casos sabemos que os recursos são normalmente mais exigentes. Terapeutas das mais diversas áreas recorrem a brinquedos, jogos, imagens ou outros materiais específicos, para atingir os objetivos terapêuticos. Contudo, felizmente já é possível fazer acontecer o acompanhamento de crianças à distância, usando diversos recursos tecnológicos e flexibilizando as estratégias a pôr em prática.

Proximidade das famílias

Sabemos que os nossos ritmos diários acelerados nem sempre permitem que seja feita uma articulação mais assídua entre os terapeutas e os pais, quando a terapia é direta e decorre em ambiente clínico ou escolar. As consultas por videochamada permitem um contacto com os pais, sem exigir que se desloquem a um espaço físico diferente. É tão fácil, prático e imediato como fazer uma simples chamada telefónica.

Evolução da tecnologia

Atualmente existem muitas opções para a realização de uma videochamada. Os programas são acessíveis e dispõem de ferramentas importantes que permitem a realização de consultas à distância de uma forma mais dinâmica e apelativa para os mais pequenos. Para além da interação já conhecida com o terapeuta, permitem visualizar materiais de forma conjunta, jogar jogos, ou desenhar e escrever num mesmo documento partilhado em tempo real, por exemplo.

Adaptações individuais

Especialmente no caso de crianças mais pequenas ou que apresentam um comportamento mais irregular, à primeira vista a teleterapia pode parecer impossível. No entanto, pode acontecer precisamente o contrário. Muitas vezes, comunicar através de um computador ou de um tablet prende mais atenção das nossas crianças do que um contacto presencial. Para além disso, podem ser feitas diversas adaptações, consoante as necessidades de cada caso. Por exemplo, se a criança não reúne condições para fazer uma consulta durante 45 ou 50 minutos, porque não dividir em dois momentos distintos?

Generalização de competências

Por vezes, os pais sentem dificuldade em dar continuidade ao trabalho feito na terapia, o que pode fazer com que as competências adquiridas em ambiente clínico não se verifiquem nos outros contextos de vida dos mais pequenos. Esta é a oportunidade de permitir que o terapeuta “entre” em casa e, em conjunto com a família, faça uma reflexão sobre todos os fatores que dificultam a continuidade do trabalho em casa. Por exemplo, um aconselhamento sobre os materiais mais adequados, ou sobre mudar a disposição dos brinquedos em casa, pode trazer vantagens.

Os pais como co-terapeutas

Muitas crianças beneficiam de uma intervenção centrada na interação com os pais. À semelhança de muitos modelos terapêuticos já usados em todo o mundo, a realização de consultas à distância permite integrar os benefícios desta interação. É uma forma de atuação em que o terapeuta pode modelar a interação, as brincadeiras e as tarefas a realizar com a criança. Pode ser feito em tempo real na videochamada ou após a visualização de vídeos enviados pelos pais, por exemplo.

Muitas vezes, as circunstâncias forçadas trazem a necessidade de flexibilizar procedimentos, de encontrar diferentes soluções para diferentes obstáculos. A teleterapia é algo que pode parecer distante, mas representa também a possibilidade de garantir que as aquisições das crianças não sejam perdidas. Evoluções que tanto empenho, tempo e esforço custaram a conseguir em muitos casos. Pode representar também a garantia que o tempo ótimo de estimulação não é desperdiçado no caso dos mais pequenos. Quanto mais precocemente acontecer o acompanhamento, presencial ou à distância, melhores serão os resultados.

Ana Rita Santos, Terapeuta da Fala.

PIN – Centro de Desenvolvimento