
«Revista E – Expresso » “O cérebro é sempre uma obra inacabada” – Dr. Nuno Lobo Antunes
A pediatria escolheu-o e subjaz as suas outras especialidades. Tem um radar treinado no que toca às crianças. Aos 66 anos, não se revê na austeridade familiar e cultiva “uma certa alegria juvenil”, que o mantém a salvo da aridez da idade.
Recebe-nos de manhã, máscara e etiqueta respiratória, em Paço de Arcos, nas instalações do PIN — Progresso Infantil, por si fundado. É a aquisição mais recente de um homem habituado a recomeços, a viragens bruscas numa vida que já soma 66 anos. O gabinete do neuropediatra Nuno Lobo Antunes é o último do corredor. Até lá, passa-se por outros cujas paredes brancas estão revestidas de desenhos infantis. Não é de admirar: muitas crianças por dia param por aqui, para serem vistas, seguidas, acompanhadas — como ele gosta de dizer — pela equipa que dirige.
Nuno Lobo Antunes, nascido em Lisboa, viveu duas vezes em Nova Iorque. E, da segunda, que poderia ter sido a definitiva, voltou porque se apaixonou. É um homem cujos olhos azuis, iguais aos dos seus irmãos João e António, denunciam a linhagem. Mas que diz ter pouco a ver com a austeridade familiar. “Sou despudoradamente afetivo”, reconhece ele, para quem um dos maiores atos de coragem foi ter “ousado” escrever um romance. Duas horas de conversa não chegaram para percorrer um quinto das suas várias vidas. Mas deixaram a ideia de que corre atrás de uma certa alegria, oposta ao cinismo, que o impede de secar, qualquer que seja a sua idade.